O
capítulo 5, intitulado Língua, Fala e
Enunciação, do livro Marxismo e
Filosofia da Linguagem, de Bakhtin, começa abordando uma crítica as idéias
saussurianas. Que na percepção de Bakhtin, é definido como objetivismo
abstrato. Saussure define seu estudo sobre a língua como uma ciência, sendo que
esta funciona como um sistema de normas imutáveis, no sentido diacrônico, ou
seja, para Bakhtin “Esse sistema exprime-se, efetivamente, em coisas materiais,
em signos, mas enquanto sistema de formas normativas, sua realidade repousa na
sua qualidade de norma social.” (pág. 90.)
Saussure
em seu estudo sobre a língua acaba excluindo o sujeito e o campo ideológico, em
oposição Bakhtin, afirma “que só para a consciência individual, e do ponto de
vista dela, que a língua se apresenta como sistema de normas rígidas e
imutáveis”. (pág. 92).
Nessa
perspectiva Bakhtin, nos impulsiona a lançar um “olhar oblíquo”, sobre esta
conceituação citada anteriormente, que de acordo com ele, não iremos encontrar
nenhum indício de um sistema de normas imutáveis, pelo contrário, iremos nos
deparar com uma evolução ininterrupta das normas da língua, ou seja, esta não se
encontra estagnada, apresenta-se como uma corrente evolutiva que varia e que
muda ao longo do tempo e do espaço.
No
entanto, seguindo o viés proposto por Bakhtin, nenhum dos objetivistas
abstratos chegou a compreender de forma clara e precisa o funcionamento
intrínseco da língua como sistema objetivo. Este afirma que até Saussure não
esclarece o sistema objetivo, ou seja, não esclarece essa questão claramente.
Para
Bakhtin, a consciência subjetiva do locutor não se utiliza da língua como de um
sistema de formas normativas. “O sistema lingüístico é o produto de uma
reflexão que não procede da consciência do locutor nativo e que não serve aos
propósitos imediatos da comunicação”. (pág. 92).
Na
realidade o locutor serve-se da língua enquanto materialidade lingüística, para
as suas necessidades da construção de enunciados concretos. Ou seja, para o
locutor ele utiliza as formas normativas, mas se não tiver uma significação,
esta não fará sentido algum, é preciso saber o contexto.
Por
exemplo, eu posso ler um texto, e este não fazer sentido algum para mim, mas outro
leitor, pode não ter não ter o mesmo vazio de significação, pois é lido em
outro contexto e por uma pessoa que tem outro vivencias.
Outro
aspecto importante, neste capítulo, é que para Saussure, o signo é exterior ao
sujeito e se dá a partir de um significante e um significado, para Bakhtin, o
discurso é intrínseco e ideológico.
Desta
maneira, “enquanto uma forma lingüística for apenas um sinal e for percebida
pelo receptor somente com tal, ela não terá para ele nenhum valor lingüístico”.
(pág. 94).
É
interessante observar que, Bakhtin ressalta nesse capítulo, que o importante não
é decodificar a forma lingüística, mas o sentido que o reconhecimento do sinal
se refere.
No
decorrer do texto, este frisa muito essa idéia “que na prática viva da língua,
a consciência lingüística do locutor nada tem a ver com um sistema abstrato de
formas normativas, mas apenas com a linguagem no sentido conjunto dos contextos
possíveis de uso de cada forma particular”. (pág. 95).
E
adiante,
“A
palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou
vivencial”. (pág. 95). Bakhtin considera um dos erros mais grosseiros do
objetivismo abstrato, é a linguagem vazia de ideologia, percebe-se que nessa
perspectiva a palavra só passa a ser signo quando carrega uma ideologia, se não
esta é caracterizada apenas como um sinal.
Diante
do exposto, Bakhtin se posiciona neste capítulo, afirmando que se a língua é
vista como um sistema de formas normativas, este procedimento a estabelece,
como uma língua morta.
Obrigado por postar esta análise. Me ajudou a compreender este capítulo do livro.
ResponderExcluirabraço
Jorge