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sábado, 8 de novembro de 2014

CAPÍTULO 6 - MARXISMO E FILOSOFIA DA LINGUAGEM

O capítulo 6, intitulado Língua, Fala e Enunciação, do livro Marxismo e Filosofia da Linguagem, de Bakhtin, nos revela que o objetivismo abstrato rejeita a enunciação, o ato de fala, como sendo individual.

Com efeito, a enunciação é o produto da interação verbal de dois indivíduos socialmente organizados e, mesmo que não haja um interlocutor real, este pode ser substituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o locutor (Ibidem, p. 112).

O subjetivismo individualista, ao contrário, só leva em consideração a fala, considerada como individual, explicada a partir das condições da vida psíquica individual do sujeito falante.
            Além disso, para Bakhtin, o que marca o tom dialógico dado ao enunciado é o fato de que este é constituído na relação existente entre os interlocutores nas condições de produção enunciativa, o que equivale a dizer que

A palavra dirige-se a um interlocutor: ela é função da pessoa desse interlocutor: variará se se tratar de uma pessoa do mesmo grupo social ou não, se esta for inferior ou superior na hierarquia social, se estiver ligada ao locutor por laços sociais mais ou menos estreitos [...] (Ibidem, p. 112) (Grifos do original).


Assim concebe a linguagem como um processo de interação verbal entre indivíduos socialmente situados, e a comunicação passa a ser entendida como uma relação de alteridade, em que o “eu se constrói pelo reconhecimento do tu”.
            Para Bakhtin a enunciação é de natureza social, já que é produto de interação de dois indivíduos, como foi citado anteriormente.
            A enunciação é o conjunto de manifestações verbais e não verbais que cercam o ato comunicativo, garantindo a expressão de sentido. Pressupõe a voz do emissor, o horizonte do receptor, o tempo e o espaço em que é produzida. Cada um é único e irrepetível.
Primeiramente, não há como sustentar a tese do subjetivismo idealista de que a indivíduo seja o centro organizador da enunciação, uma vez que a palavra é orientada externamente pelo grupo social em que o indivíduo se insere: “O centro organizador de toda enunciação, de toda expressão, não é o interior, mas o exterior: está situado no meio social que envolve o indivíduo” (BAKHTIN, 1992, p. 121).
Vale ressaltar que as críticas empreendidas por Bakhtin mostram que sua preocupação se relacionava ao papel da exterioridade do enunciado em relação ao sentido que produz. O conceito de interação verbal bakhtiniano contempla além da presença ativa dos participantes da interação, o contexto social de atuação desses participantes. Sendo o indivíduo resultado de suas relações sociais, a interação verbal.

“A enunciação enquanto tal é um puro produto da interação social, quer se trate de um ato de fala determinado pela situação imediata ou pelo contexto mais amplo que constitui o conjunto das condições de vida de uma determinada comunidade lingüística.” (pág. 121).

Portanto, diante do exposto observa-se que Bakhtin rejeita o subjetivismo individualista, afirmando que o centro de toda enunciação não é o interior e sim o exterior, que é o meio social que está o individuo.

REFERÊNCIA
BAKHTIN, M.M. Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do método sociológico da linguagem. 12ª ed. Hucitec. São Paulo, 2006. (páginas 93- 133)



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