O capítulo 6, intitulado Língua,
Fala e Enunciação, do livro Marxismo
e Filosofia da Linguagem, de Bakhtin, nos revela que o objetivismo abstrato
rejeita a enunciação, o ato de fala, como sendo individual.
Com efeito, a enunciação é o produto da
interação verbal de dois indivíduos socialmente organizados e, mesmo que não
haja um interlocutor real, este pode ser substituído pelo representante médio
do grupo social ao qual pertence o locutor (Ibidem, p. 112).
O subjetivismo individualista, ao contrário, só leva em consideração a
fala, considerada como individual, explicada a partir das condições da vida
psíquica individual do sujeito falante.
Além disso, para Bakhtin, o que marca o tom dialógico dado ao enunciado é o
fato de que este é constituído na relação existente entre os interlocutores nas
condições de produção enunciativa, o que equivale a dizer que
A palavra dirige-se a um interlocutor: ela é função da pessoa desse interlocutor: variará se se
tratar de uma pessoa do mesmo grupo social ou não, se esta for inferior ou
superior na hierarquia social, se estiver ligada ao locutor por laços sociais
mais ou menos estreitos [...] (Ibidem, p. 112) (Grifos do original).
Assim concebe a linguagem como um processo de interação verbal entre indivíduos
socialmente situados, e a comunicação passa a ser entendida como uma relação de
alteridade, em que o “eu se constrói pelo reconhecimento do tu”.
Para Bakhtin a enunciação é de
natureza social, já que é produto de interação de dois indivíduos, como foi
citado anteriormente.
A enunciação é o conjunto de
manifestações verbais e não verbais que cercam o ato comunicativo, garantindo a
expressão de sentido. Pressupõe a voz do emissor, o horizonte do receptor, o
tempo e o espaço em que é produzida. Cada um é único e irrepetível.
Primeiramente, não há como sustentar a tese do
subjetivismo idealista de que a indivíduo seja o centro organizador da
enunciação, uma vez que a palavra é orientada externamente pelo grupo social em
que o indivíduo se insere: “O centro organizador de toda enunciação, de toda
expressão, não é o interior, mas o exterior: está situado no meio social que
envolve o indivíduo” (BAKHTIN, 1992, p. 121).
Vale ressaltar que as críticas empreendidas por
Bakhtin mostram que sua preocupação se relacionava ao papel da exterioridade do
enunciado em relação ao sentido que produz. O conceito de interação verbal
bakhtiniano contempla além da presença ativa dos participantes da interação, o
contexto social de atuação desses participantes. Sendo o indivíduo resultado de
suas relações sociais, a interação verbal.
“A enunciação
enquanto tal é um puro produto da interação social, quer se trate de um ato de
fala determinado pela situação imediata ou pelo contexto mais amplo que
constitui o conjunto das condições de vida de uma determinada comunidade
lingüística.” (pág. 121).
Portanto, diante do exposto observa-se que Bakhtin rejeita o subjetivismo
individualista, afirmando que o centro de toda enunciação não é o interior e
sim o exterior, que é o meio social que está o individuo.
REFERÊNCIA
BAKHTIN, M.M. Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais
do método sociológico da linguagem. 12ª ed. Hucitec. São Paulo, 2006. (páginas
93- 133)
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