Páginas

sábado, 8 de novembro de 2014

CAPÍTULO 5 - MARXISMO E FILOSOFIA DA LINGUAGEM

O capítulo 5, intitulado Língua, Fala e Enunciação, do livro Marxismo e Filosofia da Linguagem, de Bakhtin, começa abordando uma crítica as idéias saussurianas. Que na percepção de Bakhtin, é definido como objetivismo abstrato. Saussure define seu estudo sobre a língua como uma ciência, sendo que esta funciona como um sistema de normas imutáveis, no sentido diacrônico, ou seja, para Bakhtin “Esse sistema exprime-se, efetivamente, em coisas materiais, em signos, mas enquanto sistema de formas normativas, sua realidade repousa na sua qualidade de norma social.” (pág. 90.)
Saussure em seu estudo sobre a língua acaba excluindo o sujeito e o campo ideológico, em oposição Bakhtin, afirma “que só para a consciência individual, e do ponto de vista dela, que a língua se apresenta como sistema de normas rígidas e imutáveis”. (pág. 92).
Nessa perspectiva Bakhtin, nos impulsiona a lançar um “olhar oblíquo”, sobre esta conceituação citada anteriormente, que de acordo com ele, não iremos encontrar nenhum indício de um sistema de normas imutáveis, pelo contrário, iremos nos deparar com uma evolução ininterrupta das normas da língua, ou seja, esta não se encontra estagnada, apresenta-se como uma corrente evolutiva que varia e que muda ao longo do tempo e do espaço.
No entanto, seguindo o viés proposto por Bakhtin, nenhum dos objetivistas abstratos chegou a compreender de forma clara e precisa o funcionamento intrínseco da língua como sistema objetivo. Este afirma que até Saussure não esclarece o sistema objetivo, ou seja, não esclarece essa questão claramente.
Para Bakhtin, a consciência subjetiva do locutor não se utiliza da língua como de um sistema de formas normativas. “O sistema lingüístico é o produto de uma reflexão que não procede da consciência do locutor nativo e que não serve aos propósitos imediatos da comunicação”. (pág. 92).
Na realidade o locutor serve-se da língua enquanto materialidade lingüística, para as suas necessidades da construção de enunciados concretos. Ou seja, para o locutor ele utiliza as formas normativas, mas se não tiver uma significação, esta não fará sentido algum, é preciso saber o contexto.
Por exemplo, eu posso ler um texto, e este não fazer sentido algum para mim, mas outro leitor, pode não ter não ter o mesmo vazio de significação, pois é lido em outro contexto e por uma pessoa que tem outro vivencias.
Outro aspecto importante, neste capítulo, é que para Saussure, o signo é exterior ao sujeito e se dá a partir de um significante e um significado, para Bakhtin, o discurso é intrínseco e ideológico. 
Desta maneira, “enquanto uma forma lingüística for apenas um sinal e for percebida pelo receptor somente com tal, ela não terá para ele nenhum valor lingüístico”. (pág. 94).
É interessante observar que, Bakhtin ressalta nesse capítulo, que o importante não é decodificar a forma lingüística, mas o sentido que o reconhecimento do sinal se refere.
No decorrer do texto, este frisa muito essa idéia “que na prática viva da língua, a consciência lingüística do locutor nada tem a ver com um sistema abstrato de formas normativas, mas apenas com a linguagem no sentido conjunto dos contextos possíveis de uso de cada forma particular”. (pág. 95).
E adiante,
“A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial”. (pág. 95). Bakhtin considera um dos erros mais grosseiros do objetivismo abstrato, é a linguagem vazia de ideologia, percebe-se que nessa perspectiva a palavra só passa a ser signo quando carrega uma ideologia, se não esta é caracterizada apenas como um sinal.
Diante do exposto, Bakhtin se posiciona neste capítulo, afirmando que se a língua é vista como um sistema de formas normativas, este procedimento a estabelece, como uma língua morta.

Um comentário:

  1. Obrigado por postar esta análise. Me ajudou a compreender este capítulo do livro.
    abraço
    Jorge

    ResponderExcluir