ROTEIRO DE APRESENTAÇÃO (ADRIANA
ALVES)
ANÁLISE SOCIOLÓGICA
- INTRODUÇÃO:
O nosso
trabalho irá abordar um pouco sobre a análise sociológica, que seria uma
corrente de estudo, a qual podemos nos valer para estudar e analisar um texto
literário, não pela vida do autor, da estrutura, mas apartir do contexto
histórico-social em que o autor produziu a sua obra.
l REPRESENTANTES:
■ A idéia de que a obra literária, em
sentido amplo, constitui um modo de representação da realidade tem certo
trânsito entre renomados teóricos e estudiosos da literatura, tais como René
Wellek e Austin Warren;
■
Erich Auerbach;
■
Afrânio
Coutinho;
■
Antonio
Candido e outros.
Adotando este pressuposto básico e ampliando-o
em direção às indagações em torno das relações entre literatura e sociedade,
apresenta-se-nos a necessidade de uma reflexão sobre como os métodos sociológicos
de abordagem do texto literário, ou mais especificamente a chamada sociologia
da literatura, entenderiam o problema da representação da realidade pela
literatura.
l ORIGENS:
Este
interesse dos pensadores em compreender as relações entre literatura e
sociedade não é recente, embora tenha tomado mais fôlego, principalmente, na
segunda metade do século XX, com a publicação, na França, em 1963, de A
teoria do romance, de Georg Lukács, bem como dos estudos, ainda na década
de 1950, de Lucien Goldmann, um dos mais atuantes divulgadores dos estudos
sociológicos aplicados à literatura. Segundo Jean-Yves Tadié, o que hoje
podemos chamar de sociologia da literatura teria suas origens teóricas
ainda em princípios do século XIX. Embora não menos importantes, estas origens
remontam à passagem do século XVIII para o século XIX.
- POSTULADOS:
A partir da segunda metade do
século XIX, as contribuições para a formalização de uma sociologia da literatura
vão aumentar consideravelmente, recebendo influências inclusive das teorias
científicas em vigor na época.
Hyppolite Taine esboça, por volta
de 1853, a
sua teorização determinista através do trinômio raça-meio-momento, cuja
principal ressonância seria a de relacionar, ou condicionar, uma realização
literária (e, portanto, a personalidade que a produziu) a um contexto que não é
apenas histórico, mas também cultural, social e racial. Desta forma, a produção
literária estaria irremediavelmente (e a priori) condicionada a elementos
exteriores a ela. Esta perspectiva de estudo da obra literária acarretaria em
problemas para o próprio método, cuja principal acusação sofrida é a de relegar
a realidade interna das obras a segundo plano em benefício da explicação dos
fatores condicionantes..
É importante ressaltar que o campo
metodológico da sociologia da literatura se ampliou a partir da contribuição de
diversos pensadores, tais como Walter Benjamin, Theodor Adorno, Arnold Hauser,
Jean-Paul Sartre, entre outros.
Se, por um lado, estas contribuições geraram divergências metodológicas, por
outro demonstrou-se a possibilidade de investigar as relações entre literatura
e sociedade delimitando campos específicos de pesquisa (algumas vezes em
diálogo com outros campos), dando à sociologia da literatura uma amplidão de
perspectivas investigativas tão diversificadas quanto as da sociologia.
As tendências de delimitações
metodológicas para o estudo sociológico da literatura, grosso modo, têm
se apresentado mais freqüentemente da seguinte forma:
o estudo marcado pelo exame, e
pelo relacionamento, entre um determinado corpus no âmbito literário (p.
ex. uma determinada manifestação num dado estilo de época, um gênero, etc.) e
as condições histórico-sociais;
o estudo centrado na consideração
do autor e de sua situação histórico-social, bem como de sua situação no campo
intelectual; neste âmbito, pode situar-se inclusive o estudo do escritor e suas
condições de produção, problemas de remuneração, etc.;
o estudo centrado em problemas
relativos à obra literária, sua publicação, distribuição, circulação, inclusão
no cânone literário, etc.;
o estudo centrado no público
leitor e sua relação com as obras: o consumo, o sucesso (ou insucesso) de
obras, ressonâncias provocadas pelas obras (nos leitores), etc.
Estas perspectivas de estudo, entre
outras ligadas à sociologia da literatura, podem trazer um problema para os
estudos literários, como observa Luiz Costa Lima: subordinar a obra literária
“ao propósito de entendimento dos mecanismos em operação na sociedade”. Também
Antonio Candido, em seu ensaio “Crítica e sociologia” de Literatura e
sociedade, aventa a possibilidade de o valor e o significado da obra serem
relegados em benefício da explicação sociológica, tornando o dado exógeno ao
texto literário o verdadeiro motor da análise. No entanto, no mesmo ensaio,
Candido reconhece perceber uma atitude de mudança, por parte dos teóricos e dos
críticos, na constituição do método, qual seja, o do estudo do elemento social
na obra não mais como uma relação de condicionamento meio-obra (sendo a obra,
desta forma, uma ilustração de determinadas dinâmicas sociais), mas numa
perspectiva de “interiorização” do elemento social como elemento estruturador
da obra.
Perspectiva estética
A primeira concepção, chamada de
tendência estética ou idealista, baseia-se em fontes estéticas ou psicológicas
provenientes do autor e sua obra para estudar o conteúdo literário,
marginalizando as condições sociais como centro de foco de atenção em suas
análises. Essa tendência considera o campo social como interferências que atuam
nas obras em segundo plano, as quais estão primeiramente sujeitas aos processos
estéticos ou psicológicos advindos das capacidades criativas do autor.
Essa concepção idealista define a
estética e a cultura como esferas à parte na manifestação literária,
completamente autônomas uma da outra. Romances, contos e poesias seriam aí
expressões da individualidade e da singularidade do autor-gênio. Porém, essa
postura fundada no indivíduo genial se contradiz quando situamos esse sujeito
no campo artístico de sua época, investigando o vínculo entre os conflitos
sociais de seu tempo e as questões históricas presentes em sua obra. Não que o
escritor não possua a liberdade de ação criadora, mas que esse talento possua
limites objetivos: o campo social e os hábitos aí firmados são centrais para
entenderem-se as manifestações desses sujeitos.
Perspectiva materialista
A segunda perspectiva para se
analisar as obras literárias é a tendência materialista. Essa concepção de
estudos sociológicos no campo da literatura foi o método mais utilizado em
análises da relação entre a obra e seu meio social, desde a segunda metade do
século XIX (CANDIDO, 1967).
Do século passado aos nossos dias,
essa sociologia literária tradicional esforça-se por estabelecer relações entre
o conteúdo expresso da obra com o conteúdo da consciência coletiva de sua
época. Os estudiosos consideram aí o material literário como um reflexo da
realidade social, limitando-se então a analisar o que é transplantado da esfera
da sociabilidade para a ação e falas das personagens, enredos, etc.
Essa postura metodológica, baseada
de forma polêmica e reducionista no materialismo histórico, desenvolvido
inicialmente por Marx, ao afirmar “(...) que os indivíduos são dependentes,
portanto, das condições materiais de sua produção” (MARX & ENGELS,
1976, p. 19), torna-se emblemática, quando, de forma mecânica, reduz toda a
atividade cultural (literatura, música, teatro, etc) a uma mera dimensão
superestrutural dependente e determinada pelas condições materiais. Ela define
as manifestações culturais como um campo secundário; que simplesmente tende a
espelhar a infra-estrutura ou a base econômica. Esse reducionismo, apesar de
inverter a ótica idealista advinda da posição estética, continua a disseminar a
falsa separação entre cultura e sociedade (WILLIAMS, 1979).
Fundamentando uma nova Metodologia
para a Sociologia da Literatura
Mediante as inconsistências
teóricas advindas das perspectivas idealista e materialista, surge uma outra tendência
no ramo sociológico da literatura: a posição mediadora. A idéia de mediação
surge com a intenção de problematizar a teoria do reflexo social, pois
demonstra que não só a esfera social é ativa na criação literária, mas também
há um processo ativo por parte do imaginário do autor nesse contexto. Quer
dizer, analisando uma obra artística a partir dessa postura é considerar que a
questão social não está refletida diretamente na arte, pois ela é captada por
um processo (imaginário do ficcionista) que altera seu conteúdo original
(FACINA, 2004).
Com base nessa perspectiva, a
literatura expressa as visões de mundo que são coletivas de determinados grupos
sociais. Essas visões de mundo são constituídas pela vivência histórica desses
grupos, formada pela ação dos indivíduos, que são construtores dessa
experiência. São elas que compõem a prática social dos sujeitos e seus grupos
sociais. Nesse caso, analisar as visões de mundo transformadas em textos
literários, investigando aí as condições de produção e a situação
sócio-histórica de seu autor, deve ser o foco de estudos para a investigação
sociológica:.
Portanto, cabe ao cientista social
indagar a si mesmo como essas visões de mundo tornam-se coesos e a partir de
quais pressupostos valorativos presentes nas relações sociais elas se utilizam
para essa coesão. O objetivo da análise sociológica é o de desvendar a lógica
do “jogo de poder social” e demonstrar como esse fenômeno é retratado na obra
artística. Assim, a partir dessa discussão, pode-se propor três aspectos da
atividade literária a serem observadas em pesquisas de âmbito do sociológico:
1) A estrutura social – constitui a
mediação entre a obra de arte e as dimensões da realidade social em que ela
está inserida. Isso significa observar como as pressões que os valores
culturais, os grupos sociais, as posições políticas vigentes e o público do
literato vão exercer na elaboração e aceitação do texto literário em seu
respectivo período histórico.
2) O gênero literário – as
tendências artísticas possuem suas normas, suas “leis internas”, suas tradições
e predileções. Tais aspectos privilegiam certos temas e marginalizam outros. É
a partir desse “código estético” que o autor se pautará para se dirigir ao
público e críticos, além de eleger determinadas normas de seus gênero literário
ao abordar os temas em seu texto.
3) O autor – a posição constituída
pelo artista implica no valor dado ao seu imaginário, os seus intuitos
individuais; as formas e os conteúdos que ele pretende atribuir a sua obra e
expectativa de como ele será aceito pelo público.
Lembrando que não há prioridade de
um fator sobre o outro, pelo contrário, a postura mediadora de análise consiste
em considerar que esses três atributos estão profundamente imbricados uns aos
outros dentro da obra de arte. Esse tipo de procedimento metodológico
possibilitará encontrar as atividades intelectuais, políticas, sociais e
econômicas de forma agrupada nas estruturas de conteúdo das obras literárias
estudadas e, assim, ser possível estabelecer entre elas o conjunto de relações
inteligíveis que a mensagem do texto tende a mostrar – homologias (GOLDMANN,
1967).
SINTESE DO ASSUNTO:
Diante das reflexões teóricas aqui
discutidas, verifica-se que deve-se propor a superação das posições idealistas
e materialistas na fundamentação metodológica da sociologia da literatura. Ao
invés disso, buscando um modo mais abrangente de análise, a literatura deve ser
tomada como um campo que diz respeito a um conjunto de práticas, contextos e
atores sociais se auto-definindo e se auto-regulando. Quer dizer, o estudo
sociológico da atividade literária deve observar as práticas que dizem respeito
não só à estrutura social, mas aos intuitos do escritor e dos diversos agentes
culturais envolvidos na produção e apropriação do texto literário. A obra
literária não é mero reflexo da consciência coletiva ou individual, mas a
concretização das ações sócio-culturais tomadas por um grupo social na
definição da consciência coletiva: a produção literária corresponde à estrutura
mental de um determinado grupo social. Desse modo, a obra literária de uma dada
sociedade e época é o resultado de diversas práticas, pressupostos, concepções
expressas em valores e posturas reconhecidos enquanto tal pela coletividade.
REFERENCIAL TEORICO:
l NETO.
Miguel Leocádio Araújo. A sociologia da literatura: origens e
questionamentos .Mestre em Literatura Brasileira –UFC. Agosto de 2007. p.15
Disponível em: www.entrelaces.ufc.br/miguel.pdf.
Nenhum comentário:
Postar um comentário