OS
OBJETIVOS E FINALIDADES DA EDUCAÇÃO
Adriana Alves de
Lima[1]
“Em tempo algum pude ser um observador
“acizentadamente” imparcial, o que, porém, jamais me afastou de uma posição
rigorosamente ética.
Quem
observa o faz de um certo ponto de vista, o que não situa o observador do erro.
O erro na
verdade não é ter um certo ponto de vista, mas absolutizá-lo e desconhecer que,
mesmo do acerto de seu ponto de vista é possível que a razão ética nem sempre
esteja com ele”.
Paulo
Freire
RESUMO:
Este
trabalho pretende apresentar as contribuições dos estudos especializados nas
formas de expressão das diretrizes ou proposições orientadoras da educação
escolar, denominadas finalidades e objetivos, com a preocupação de destacar as
suas decorrências para a atuação prática. Pretende, assim, esclarecer, como
devem estar expressas ou enunciadas tais diretrizes ou proposições para que
possam encaminhar o funcionamento real e efetivo da educação escolar, qual seja
aquele que se situa no contexto interno da escola e que envolve, especialmente,
tarefas próprias do domínio do currículo, do trabalho docente e da avaliação do
rendimento escolar. Pode-se dizer, pois, que este é um trabalho que pretende
oferecer contribuições orientadoras da educação escolar.
PALAVRAS-CHAVE: Intenções; Educação; Ideologia; Objetivos;
Finalidade
ABSTRACT:
This paper analyzes the contribution? Es of specialized studies in the forms of
expression? The guidelines or proposition? S guideline of education? The
school, called goals and objectives, with worries? To highlight their elapsed?
ncias to act? pr? practice. Thus seeks to make clear how they should be
expressed or contained such guidelines or proposition? Es so they can relay
real and effective functioning of education? The school, which is the one that
lies in the internal context of the school and that involves particular tasks
pr? Pippen's gift? nio of curr? century, the teaching and assessment? of school
performance. It can be said therefore that this? a work that aims to offer
help? s guidelines of education? the school.
KEYWORDS: Inten? Es; Educa? It; Ideology; Objectives; Purposes.
KEYWORDS: Inten? Es; Educa? It; Ideology; Objectives; Purposes.
O trabalho pretende, além disso, apresentar os
fatores, de diferentes naturezas, que compõe o quadro explicativo mais amplo
para a proposição ou elaboração das formas de expressar finalidades e
objetivos. Nesse sentido, pretende esclarecer, particularmente, que a questão
da operacionalização de diretrizes ou proposições orientadoras do mesmo modo
que outras questões da área da educação escolar é questão cujo estudo não se
esgota numa dimensão puramente técnica, mas que deve considerar, também, outras
dimensões.
Como se pode notar, este trabalho não se preocupa em
discutir as fontes ou matrizes de onde devem emergir, ou nas quais devem ser
buscadas as finalidades e os objetivos da educação escolar. O que se propõe
realizar é um estudo das formas sob as quais devem ser expressos ou enunciados,
após terem sido escolhidos, para que consigam exercer influências ou acarretar
conseqüências no domínio do trabalho escolar, especialmente no das escolas.
Nesse aspecto, o esforço não pretende superestimar o papel das finalidades e
objetivos nessa área. Pretende, apenas mostrar a devida função que devem
desempenhar, e que justifica a sua própria razão de existir.
REVISITANDO OS OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO
De
acordo com Maria Eugênia (1996, pg. 53), a educação só pode ser entendida no
contexto das relações sociais de que nasce. A educação é uma das mais
importantes mediações das relações sociais conflitivas e a formulação de seus
objetivos integram essa área de turbulência que é a arena da luta social. Ela
no seio das sociedades mais complexas como as capitalistas industriais é uma
atividade planejada, que pressupõe o traçamento de objetivos e indicação de
meios para atingi-los.
Harbemas
apud Maria Eugênia (1996) propõe que
não há um conhecimento puro como o que postula a teoria da ciência pura. Todo o
conhecimento está mesclado a algum tipo de interesse, passando por outras
mediações mais elaboradas, mais complexas: do trabalho, da linguagem e do
domínio. Marx mostra o homem produzindo sua existência, pelo trabalho como o
primeiro “fato histórico”. O trabalho funda a vida material humana. Portanto, o
conhecimento é interessado logo não é neutro.
Técnico
é o interesse do homem de pelo trabalho submeter o mundo, controlá-lo, colocá-lo
a serviço da satisfação de suas necessidades. Comunicativo é o interesse pela
linguagem relacionar-se com os outros. E emancipatório é o interesse de pela
articulação entre o conhecimento e a realidade, libertar-se do domínio de todo
poder externo a si mesmo, da natureza, da sociedade e de ambos introjetados na
psique.
A
teoria da educação absorve sem dificuldade a teoria dos interesses cognitivos,
portanto, os objetivos da educação são os resultados buscados pela ação
educativa: comportamentos individuais e sociais, perfis institucionais,
tendências estruturais. A teoria educacional trabalha com a “relação
intencional” dotada de objetividade suficiente para permitir sua apreensão. Os
agentes deflagradores do processo educativo são os professores, que formulam
seus planos de trabalho pedagógico, com objetivos, conteúdos, recursos
didático, e formas de avaliação; as escolas, que traçam seus planos
curriculares, de docência e de pesquisa; e os órgãos do governo e da sociedade
civil, que planejam ou intervém no processo de planejamento dos sistemas de
ensino.
Ainda segundo a autora, a educação é o
processo de inserção de pessoas no mundo cultural, com tríplice objetivo, que
corresponde a três tipos de intenção:
Objetivo técnico - corresponde a propiciar
conhecimentos enraizados nas ciências naturais;
Objetivo consensual – permitir reconhecer os
obstáculos à relação entre os homens e levar a partir da reflexão crítica, a
ação supressora das opacidades;
Objetivo político-cultural – proporcionar
meios, através da reflexão da ciência na práxis, para uma inserção lúcida na
prática social. [2]
Os
objetivos educacionais e as intenções educativas é um referencial teórico para
uma ação libertadora, isso não significa esquecer as desigualdades, apagar as
diferenças, suprimir os conflitos da realidade social, mas, identificar,
descrever e refletir sobre os obstáculos ao entendimento humano, que visem à
libertação do homem diante da opressão/repressão.
Adotando
uma perspectiva emancipatória a educação é vista como um lugar e como
instrumento de libertação das classes subalternas, dos grupos de gêneros, de
etnias discriminadas e dos indivíduos reprimidos. É esta perspectiva, que
permite conferir dignidade e importância ao trabalho do agente educativo em
qualquer instância onde ele se desenvolva.
O
psicólogo Coll e Bolea (1990) apud Maria
Eugênia (1996), afirma que na educação é onde se encontra mais facilmente as
intenções, pois é na escola e no currículo que os objetivos estão formalizados.
As
fontes para a definição das intenções educativas (e, articuladamente, dos
objetivos educacionais) são de natureza:
Ø Psicológica,
enfatizando o estudo dos interesses e das necessidades do estudante e dando
informações sobre os processos de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos;
Ø Epistemológica dos conteúdos,
destacando a herança cultural como origem da intencionalidade na escola e
levando à separação entre conteúdos essenciais e secundários e às relações
entre eles;
Ø Socioantropológica, apontando
para a análise das características e necessidades da sociedade, permitindo
determinar o que deve ser assimilado para o que o estudante venha a ser um
agente de mudança e criação cultural; e
Ø Prático-pedagógica, propiciando
novos posicionamentos (e, pois, intenções) a partir da análise reflexiva e
valorativa da prática pedagógica, do trabalho docente, da experiência
educacional vivida.[3]
O
texto nos mostra que a educação está sempre cheia de intenções, e que essas
intenções estão vinculadas a sistemas de valores e à ideologia predominante na
sociedade, mais diretamente aos grupos que assumem o planejamento e a condução
da escola, sendo, portanto, sujeitas as tensões e conflitos.
Para
estabelecer as intenções em seu acontecer diário, em cada aula, a duas pontas
que devem buscar equilíbrio; de um lado está o professor, responsável direto
pela sua implementação e detentor das informações necessárias para fazer as
adaptações que cada situação educativa exige. Na outra extremidade está a
sociedade que por meio das instituições, tem obrigação de garantir a todos as
experiências educativas básicas para o seu desenvolvimento e sua socialização.
O autor ainda afirma que para concretizar as intenções educativas, há dois
tipos de decisões:
1.
Grau
de concretização dos enunciados – podem variar em três
eixos básicos: os das explicitações - enunciados mais ou menos implícitos; o do
tempo requerido – intenções a curto, médio ou longo prazo; e o da
generalidade/especificidade – Que são os objetivos: gerais e específicos: finalidades
e objetivos instrucionais ou operacionais.
2.
Caminhos para concretização das intenções.
Podem ser:
·
Da aprendizagem;
·
Dos conteúdos e;
·
Das atividades.[4]
Cada
um desses processos concede caminhos diferentes na formulação e na
concretização das intenções educativas.
Esse caminho toma como fio condutor
de todo o processo a aprendizagem que o aluno deve ter realizado. Atividades e
conteúdos são escolhidos conforme os resultados.
Para
formular e concretizar as intenções educativas deve-se selecionar cuidadosamente
conteúdos relevantes e pertinentes ao lado da definição dos resultados
esperados de aprendizagem.
O
enfoque racionalista considera possível e legítimo selecionar conteúdos sem
levar em conta os resultados esperados. Nutre-se diretamente das investigações
relativas à epistemologia interna das disciplinas científicas.
A
estrutura epistêmica de uma disciplina pode não ser a mais adequada para o
aluno principiante. Uma boa teoria para o especialista não é necessariamente
uma boa teoria pedagógica. A estrutura lógica não se confunde com a estrutura
psicológica e ambas são muito importantes para o planejamento de ensino.
A
idéia básica subjacente à escolha das atividades de ensino e aprendizagem como
fio condutor para formular as intenções educativas é a de que existem
determinadas atividades que têm valor em si mesmo: trata-se de identificar as
atividades de maior valor educativo intrínseco e favorecer a participação dos
alunos nessas atividades. Isto quer dizer que algumas atividades são válidas
por si mesmas e não precisam de justificação ligada a resultados de
aprendizagem a serem obtidos. Atividades/conteúdos e, em alguns casos,
atividades/conteúdos/resultados esperados, entendendo-se por estes últimos as
capacidades ou processos mentais.
É
possível indicar alguns princípios que podem contribuir para o importante
trabalho dos educadores:
·
A unidade da ciência e pluralidade das
culturas – deveria ocorrer uma intenção educativa sem violência, libertadora.
·
A diversificação das formas de excelência
– O ensino deveria abandonar o culto à “inteligência”, definindo-se padrões
alternativos aos que foram estabelecidos pela cultura aristocrática e burguesa;
·
A multiplicação das chances – O sistema de
ensino deveria procurar novos caminhos de avaliação;
·
A unidade no e pelo pluralismo – Todo o
ensino deve ter caráter público;
·
A revisão periódica dos saberes ensinados
– Os saberes ensinados devem passar por contínuas revisões a fim de que seu
conteúdo não seja banalizado;
·
A unificação dos saberes transmitidos –
Uma unificação sem imposição e fundada, não em uma orientação filosófica,
política ou religiosa, mas num critério como o da história;
·
Uma educação contínua e alternada – A
educação deveria seguir para além dos limites formais da escolarização;
·
O uso das técnicas modernas e de difusão -
O ensino deveria caminhar para uma integração, na escola, das modernas técnicas
de comunicação;
·
A
abertura na e pela autonomia - A escola deve manter-se autônoma para poder
resistir à pressão de poderes externos, mas deve abrir-se para poder crescer e
melhor exercer sua própria autonomia.[5]
Reafirmamos que, em
sociedades dotadas de alguma complexidade, a educação é uma atividade
planejada, pressupondo o estabelecimento de objetivos, de acordos com certas
intenções. O trabalho pedagógico, direcionado ao entendimento deve levar a uma
atuação inteligente no sentido de atingir os objetivos da educação, para que
não se firme no espaço da sala de aula com palavras de ordem que apenas
desmobilizam, não levando à realização de “ações vitais”.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Percebe-se que a
educação escolar deve ser entendida como uma área da atividade humana de
elementos de naturezas diferentes e que devem estar interligados. Está
composta, assim de elementos doutrinários, como ideais, aspirações, teorias,
princípios, representações, atitudes, símbolos, valores, com a função de
nortear, informar ou orientar seu funcionamento. Está composta, também, de
elementos estruturais ou institucionais, de diferentes naturezas, como, por
exemplo, o currículo, a clientela escolar, os órgãos da administração
escolar, o corpo docente etc.
Grande[6]
afirma “que o conjunto de valores, ideais, aspirações, doutrinas, teorias,
princípios de determinada sociedade se traduzem para área da educação
escolar, onde acabam por ser convertidos em rumos e finalidades, que refletem
um ideal de formação do homem a ser concretizado”. Ou seja, o ideal de
formação do homem, proposto para a educação escolar realizar, explica-se como
decorrência do sistema de valores dominante em uma determinada época e lugar,
e constitui uma configuração particular do conjunto de elementos doutrinários
que regem a educação escolar.
As finalidades e os
objetivos traduzem os padrões de realização escolar englobados no ideal de
formação do homem que deve ser concretizado na área da educação escolar.
Segundo Grande,
“as
finalidades são diretrizes mais amplas e pouco explícitas, representam os
critérios que reúnem recursos para encaminhar o planejamento das condições
institucionais que pertencem à dimensão do sistema escolar. Já os objetivos,
são diretrizes menos amplas e mais explícitas, e oriundas das finalidades,
representam aqueles capazes de encaminhar o planejamento das condições
institucionais que pertencem à estrutura técnico-pedagógica, e que são as condições
que possuem recursos para concretizar, analisar, replanejar, reformular e
aperfeiçoar a educação escolar”.[7]
Em resumo, percebe-se
que a educação como tudo que nos rodeia é cheia de intenções, e é através do
currículo onde são concretizadas essas intenções que estão carregadas de
ideologias, de valores que a nossa sociedade carrega. O que o nosso trabalho
propõe e mostrar que ferramentas são utilizadas para que essas intenções
sejam concretizadas.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
CASTANHO, Maria Eugênia e CASTANHO,
Sérgio E. M. Revisitando os Objetivos
da Educação. In: LIMA,
Passos Alencastro Veiga (org.). Didática:
O ensino e suas relações. Campinas, SP. Papirus, 1996.
GRANDE, Maria Aparecida Rodrigues de
Lima. Educação escolar: finalidades
e objetivos. Saraiva. São Paulo, 1979.
|
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário