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domingo, 9 de novembro de 2014

OS OBJETIVOS E FINALIDADES DA EDUCAÇÃO

Adriana Alves de Lima[1]

 “Em tempo algum pude ser um observador “acizentadamente” imparcial, o que, porém, jamais me afastou de uma posição rigorosamente ética.
Quem observa o faz de um certo ponto de vista, o que não situa o observador do erro.
O erro na verdade não é ter um certo ponto de vista, mas absolutizá-lo e desconhecer que, mesmo do acerto de seu ponto de vista é possível que a razão ética nem sempre esteja com ele”.

Paulo Freire


RESUMO: Este trabalho pretende apresentar as contribuições dos estudos especializados nas formas de expressão das diretrizes ou proposições orientadoras da educação escolar, denominadas finalidades e objetivos, com a preocupação de destacar as suas decorrências para a atuação prática. Pretende, assim, esclarecer, como devem estar expressas ou enunciadas tais diretrizes ou proposições para que possam encaminhar o funcionamento real e efetivo da educação escolar, qual seja aquele que se situa no contexto interno da escola e que envolve, especialmente, tarefas próprias do domínio do currículo, do trabalho docente e da avaliação do rendimento escolar. Pode-se dizer, pois, que este é um trabalho que pretende oferecer contribuições orientadoras da educação escolar.
PALAVRAS-CHAVE: Intenções; Educação; Ideologia; Objetivos; Finalidade
ABSTRACT: This paper analyzes the contribution? Es of specialized studies in the forms of expression? The guidelines or proposition? S guideline of education? The school, called goals and objectives, with worries? To highlight their elapsed? ncias to act? pr? practice. Thus seeks to make clear how they should be expressed or contained such guidelines or proposition? Es so they can relay real and effective functioning of education? The school, which is the one that lies in the internal context of the school and that involves particular tasks pr? Pippen's gift? nio of curr? century, the teaching and assessment? of school performance. It can be said therefore that this? a work that aims to offer help? s guidelines of education? the school.
KEYWORDS:
Inten? Es; Educa? It; Ideology; Objectives; Purposes.


O trabalho pretende, além disso, apresentar os fatores, de diferentes naturezas, que compõe o quadro explicativo mais amplo para a proposição ou elaboração das formas de expressar finalidades e objetivos. Nesse sentido, pretende esclarecer, particularmente, que a questão da operacionalização de diretrizes ou proposições orientadoras do mesmo modo que outras questões da área da educação escolar é questão cujo estudo não se esgota numa dimensão puramente técnica, mas que deve considerar, também, outras dimensões.
Como se pode notar, este trabalho não se preocupa em discutir as fontes ou matrizes de onde devem emergir, ou nas quais devem ser buscadas as finalidades e os objetivos da educação escolar. O que se propõe realizar é um estudo das formas sob as quais devem ser expressos ou enunciados, após terem sido escolhidos, para que consigam exercer influências ou acarretar conseqüências no domínio do trabalho escolar, especialmente no das escolas. Nesse aspecto, o esforço não pretende superestimar o papel das finalidades e objetivos nessa área. Pretende, apenas mostrar a devida função que devem desempenhar, e que justifica a sua própria razão de existir.

REVISITANDO OS OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO
De acordo com Maria Eugênia (1996, pg. 53), a educação só pode ser entendida no contexto das relações sociais de que nasce. A educação é uma das mais importantes mediações das relações sociais conflitivas e a formulação de seus objetivos integram essa área de turbulência que é a arena da luta social. Ela no seio das sociedades mais complexas como as capitalistas industriais é uma atividade planejada, que pressupõe o traçamento de objetivos e indicação de meios para atingi-los.
Harbemas apud Maria Eugênia (1996) propõe que não há um conhecimento puro como o que postula a teoria da ciência pura. Todo o conhecimento está mesclado a algum tipo de interesse, passando por outras mediações mais elaboradas, mais complexas: do trabalho, da linguagem e do domínio. Marx mostra o homem produzindo sua existência, pelo trabalho como o primeiro “fato histórico”. O trabalho funda a vida material humana. Portanto, o conhecimento é interessado logo não é neutro.
Técnico é o interesse do homem de pelo trabalho submeter o mundo, controlá-lo, colocá-lo a serviço da satisfação de suas necessidades. Comunicativo é o interesse pela linguagem relacionar-se com os outros. E emancipatório é o interesse de pela articulação entre o conhecimento e a realidade, libertar-se do domínio de todo poder externo a si mesmo, da natureza, da sociedade e de ambos introjetados na psique.
A teoria da educação absorve sem dificuldade a teoria dos interesses cognitivos, portanto, os objetivos da educação são os resultados buscados pela ação educativa: comportamentos individuais e sociais, perfis institucionais, tendências estruturais. A teoria educacional trabalha com a “relação intencional” dotada de objetividade suficiente para permitir sua apreensão. Os agentes deflagradores do processo educativo são os professores, que formulam seus planos de trabalho pedagógico, com objetivos, conteúdos, recursos didático, e formas de avaliação; as escolas, que traçam seus planos curriculares, de docência e de pesquisa; e os órgãos do governo e da sociedade civil, que planejam ou intervém no processo de planejamento dos sistemas de ensino.
 Ainda segundo a autora, a educação é o processo de inserção de pessoas no mundo cultural, com tríplice objetivo, que corresponde a três tipos de intenção:
Objetivo técnico - corresponde a propiciar conhecimentos enraizados nas ciências naturais;
Objetivo consensual – permitir reconhecer os obstáculos à relação entre os homens e levar a partir da reflexão crítica, a ação supressora das opacidades;
Objetivo político-cultural – proporcionar meios, através da reflexão da ciência na práxis, para uma inserção lúcida na prática social. [2]


Os objetivos educacionais e as intenções educativas é um referencial teórico para uma ação libertadora, isso não significa esquecer as desigualdades, apagar as diferenças, suprimir os conflitos da realidade social, mas, identificar, descrever e refletir sobre os obstáculos ao entendimento humano, que visem à libertação do homem diante da opressão/repressão.
Adotando uma perspectiva emancipatória a educação é vista como um lugar e como instrumento de libertação das classes subalternas, dos grupos de gêneros, de etnias discriminadas e dos indivíduos reprimidos. É esta perspectiva, que permite conferir dignidade e importância ao trabalho do agente educativo em qualquer instância onde ele se desenvolva.
O psicólogo Coll e Bolea (1990) apud Maria Eugênia (1996), afirma que na educação é onde se encontra mais facilmente as intenções, pois é na escola e no currículo que os objetivos estão formalizados.
As fontes para a definição das intenções educativas (e, articuladamente, dos objetivos educacionais) são de natureza:
Ø  Psicológica, enfatizando o estudo dos interesses e das necessidades do estudante e dando informações sobre os processos de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos;

Ø  Epistemológica dos conteúdos, destacando a herança cultural como origem da intencionalidade na escola e levando à separação entre conteúdos essenciais e secundários e às relações entre eles;

Ø  Socioantropológica, apontando para a análise das características e necessidades da sociedade, permitindo determinar o que deve ser assimilado para o que o estudante venha a ser um agente de mudança e criação cultural; e

Ø   Prático-pedagógica, propiciando novos posicionamentos (e, pois, intenções) a partir da análise reflexiva e valorativa da prática pedagógica, do trabalho docente, da experiência educacional vivida.[3]

O texto nos mostra que a educação está sempre cheia de intenções, e que essas intenções estão vinculadas a sistemas de valores e à ideologia predominante na sociedade, mais diretamente aos grupos que assumem o planejamento e a condução da escola, sendo, portanto, sujeitas as tensões e conflitos.
Para estabelecer as intenções em seu acontecer diário, em cada aula, a duas pontas que devem buscar equilíbrio; de um lado está o professor, responsável direto pela sua implementação e detentor das informações necessárias para fazer as adaptações que cada situação educativa exige. Na outra extremidade está a sociedade que por meio das instituições, tem obrigação de garantir a todos as experiências educativas básicas para o seu desenvolvimento e sua socialização. O autor ainda afirma que para concretizar as intenções educativas, há dois tipos de decisões:
1.       Grau de concretização dos enunciados – podem variar em três eixos básicos: os das explicitações - enunciados mais ou menos implícitos; o do tempo requerido – intenções a curto, médio ou longo prazo; e o da generalidade/especificidade – Que são os objetivos: gerais e específicos: finalidades e objetivos instrucionais ou operacionais.
2.       Caminhos para concretização das intenções. Podem ser:
·         Da aprendizagem;
·         Dos conteúdos e;
·         Das atividades.[4]
Cada um desses processos concede caminhos diferentes na formulação e na concretização das intenções educativas.
            Esse caminho toma como fio condutor de todo o processo a aprendizagem que o aluno deve ter realizado. Atividades e conteúdos são escolhidos conforme os resultados.
Para formular e concretizar as intenções educativas deve-se selecionar cuidadosamente conteúdos relevantes e pertinentes ao lado da definição dos resultados esperados de aprendizagem.
O enfoque racionalista considera possível e legítimo selecionar conteúdos sem levar em conta os resultados esperados. Nutre-se diretamente das investigações relativas à epistemologia interna das disciplinas científicas.
A estrutura epistêmica de uma disciplina pode não ser a mais adequada para o aluno principiante. Uma boa teoria para o especialista não é necessariamente uma boa teoria pedagógica. A estrutura lógica não se confunde com a estrutura psicológica e ambas são muito importantes para o planejamento de ensino.
A idéia básica subjacente à escolha das atividades de ensino e aprendizagem como fio condutor para formular as intenções educativas é a de que existem determinadas atividades que têm valor em si mesmo: trata-se de identificar as atividades de maior valor educativo intrínseco e favorecer a participação dos alunos nessas atividades. Isto quer dizer que algumas atividades são válidas por si mesmas e não precisam de justificação ligada a resultados de aprendizagem a serem obtidos. Atividades/conteúdos e, em alguns casos, atividades/conteúdos/resultados esperados, entendendo-se por estes últimos as capacidades ou processos mentais.
É possível indicar alguns princípios que podem contribuir para o importante trabalho dos educadores:
·         A unidade da ciência e pluralidade das culturas – deveria ocorrer uma intenção educativa sem violência, libertadora.
·         A diversificação das formas de excelência – O ensino deveria abandonar o culto à “inteligência”, definindo-se padrões alternativos aos que foram estabelecidos pela cultura aristocrática e burguesa;
·         A multiplicação das chances – O sistema de ensino deveria procurar novos caminhos de avaliação;
·         A unidade no e pelo pluralismo – Todo o ensino deve ter caráter  público;
·         A revisão periódica dos saberes ensinados – Os saberes ensinados devem passar por contínuas revisões a fim de que seu conteúdo não seja banalizado;
·         A unificação dos saberes transmitidos – Uma unificação sem imposição e fundada, não em uma orientação filosófica, política ou religiosa, mas num critério como o da história;
·         Uma educação contínua e alternada – A educação deveria seguir para além dos limites formais da escolarização;
·         O uso das técnicas modernas e de difusão - O ensino deveria caminhar para uma integração, na escola, das modernas técnicas de comunicação;
·          A abertura na e pela autonomia - A escola deve manter-se autônoma para poder resistir à pressão de poderes externos, mas deve abrir-se para poder crescer e melhor exercer sua própria autonomia.[5]
Reafirmamos que, em sociedades dotadas de alguma complexidade, a educação é uma atividade planejada, pressupondo o estabelecimento de objetivos, de acordos com certas intenções. O trabalho pedagógico, direcionado ao entendimento deve levar a uma atuação inteligente no sentido de atingir os objetivos da educação, para que não se firme no espaço da sala de aula com palavras de ordem que apenas desmobilizam, não levando à realização de “ações vitais”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que a educação escolar deve ser entendida como uma área da atividade humana de elementos de naturezas diferentes e que devem estar interligados. Está composta, assim de elementos doutrinários, como ideais, aspirações, teorias, princípios, representações, atitudes, símbolos, valores, com a função de nortear, informar ou orientar seu funcionamento. Está composta, também, de elementos estruturais ou institucionais, de diferentes naturezas, como, por exemplo, o currículo, a clientela escolar, os órgãos da administração escolar, o corpo docente etc.
Grande[6] afirma “que o conjunto de valores, ideais, aspirações, doutrinas, teorias, princípios de determinada sociedade se traduzem para área da educação escolar, onde acabam por ser convertidos em rumos e finalidades, que refletem um ideal de formação do homem a ser concretizado”. Ou seja, o ideal de formação do homem, proposto para a educação escolar realizar, explica-se como decorrência do sistema de valores dominante em uma determinada época e lugar, e constitui uma configuração particular do conjunto de elementos doutrinários que regem a educação escolar.
As finalidades e os objetivos traduzem os padrões de realização escolar englobados no ideal de formação do homem que deve ser concretizado na área da educação escolar. Segundo Grande,

 “as finalidades são diretrizes mais amplas e pouco explícitas, representam os critérios que reúnem recursos para encaminhar o planejamento das condições institucionais que pertencem à dimensão do sistema escolar. Já os objetivos, são diretrizes menos amplas e mais explícitas, e oriundas das finalidades, representam aqueles capazes de encaminhar o planejamento das condições institucionais que pertencem à estrutura técnico-pedagógica, e que são as condições que possuem recursos para concretizar, analisar, replanejar, reformular e aperfeiçoar a educação escolar”.[7]

Em resumo, percebe-se que a educação como tudo que nos rodeia é cheia de intenções, e é através do currículo onde são concretizadas essas intenções que estão carregadas de ideologias, de valores que a nossa sociedade carrega. O que o nosso trabalho propõe e mostrar que ferramentas são utilizadas para que essas intenções sejam concretizadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTANHO, Maria Eugênia e CASTANHO, Sérgio E. M. Revisitando os Objetivos da Educação. In: LIMA, Passos Alencastro Veiga (org.). Didática: O ensino e suas relações. Campinas, SP. Papirus, 1996.
GRANDE, Maria Aparecida Rodrigues de Lima. Educação escolar: finalidades e objetivos. Saraiva. São Paulo, 1979.
















[1] Acadêmica do curso de Letras Português – 5º Período- Universidade Federal do Acre- UFAC.
[2] CASTANHO, 1996.
[3] CASTANHO, 1996.
[4] CASTANHO, 1996.
[5] CASTANHO, 1996.
[6] GRANDE, 1979. P. 13.
[7] Ibdem. P. 27

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