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domingo, 9 de novembro de 2014

ANÁLISE DO POEMA EU NÃO SOU EU NEM SOU O OUTRO DE MARIO DE SÁ-CARNEIRO
Autor (es)
Adriana Alves de Lima – 5º período de Letras Português
Universidade Federal do Acre - UFAC
A análise tem por objetivo mostrar um à nova forma de poesia que se anunciava nessa época, em que Mário de Sá- Carneiro escreve as primeiras manifestações dessa nova poesia.
            Para tal interpretação, o título do poema se faz importante “Eu não sou eu nem sou o outro” é algo que nos dá a sensação de dúvida, incerteza. Utilizando a 1ª pessoa do singular, o eu lírico revela-se com um advérbio de negação (não), verbo de ligação (ser) conjugado também na 1ª pessoa do singular e paralelismo. Assim temos por objetivo interpretar a poesia almejando revelar os aspectos intrínsecos dos versos.
            No poema de Mário de Sá-Carneiro, entendemos o “Eu não sou eu nem sou o outro” é aquela pessoa que nunca conseguiu se realizar completamente no decorrer de sua vida. Nem conseguiu descobrir sua identidade. De acordo com HALL apud Tadeu 1998[1] “a identidade se constrói a partir do outro, ou seja, eu sou aquilo que o outro não é”
            O eu lírico do poema nos confunde muito com a biografia do autor. Por conhecermos a vida e obra de Mário de Sá- Carneiro observa-se que o mesmo não conseguiu se realizar enquanto indivíduo na sociedade de sua época, não alcançou riquezas, nem um casamento, nem filhos, etc. Talvez o eu lírico tenha absorvido esta temática vivida pelo autor.
            O poema se constitui apenas de uma única estrofe, a qual possui quatro versos (quarteto) sendo que os mesmos não seguem uma métrica fixa, mas o primeiro verso é rimado com o quarto, e o segundo com o terceiro constituindo assim ABBA.

“Eu não sou eu nem sou o outro, (A)
Sou qualquer coisa de intermédio: (B)
Pilar da ponte de tédio (B)
Que vai de mim para o outro.” (A)

            Nessa perspectiva optamos por fazer uma análise mais intrínseca do poema, como já foi citado anteriormente no primeiro verso temos o eu lírico representando uma pessoa que não é nem uma coisa nem outra, ou seja, alguém que sempre ficou no meio termo, nunca alcança seus objetivos, se é que tem.
            No segundo verso “Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte do tédio”. Mas uma vez o eu lírico utiliza um verbo de ligação (ser) conjugado na 1ª pessoa do singular, como se ele fosse qualquer coisa de intermédio, ou seja, o que entendemos por intermédio? É o apaziguamento, é algo que está ente ele e o outro, é o pilar, ou seja, a coluna de sustentação, da ponte de tédio, esta é o único meio de ligação, o caminho por onde atravessa o tédio, como vemos adiante “que vai de mim para o outro” compondo o último verso.
            Portanto, o eu lírico revela como alguém que nunca consegue definir sua identidade, e o que serve de elo, de corrente, é este se considerar qualquer coisa que funcione com intermédio, entre o outro.
            Conclui-se que mais uma vez nas poesias de Mário de Sá- Carneiro a problemática do eu reaparece, e essa descoberta do eu, só se dá no momento que este identificar o outro. Vemos que isso não acontece nesse poema, se caracterizando o motivo central no poema, a crise de personalidade. Compreende-se o poema como uma crise existencialista, e vemos que os versos carregam muitas marcas da vida biográfica do autor, e que o poema não ocorre o desfecho, mas permanece aquele suspense, deixando sempre a dúvida no leitor.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Traduzido por Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro: Rio de Janeiro: DPCA, 1998



[1] HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Traduzido por Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro: Rio de Janeiro: DPCA, 1998

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