ANÁLISE
DO POEMA EU NÃO SOU EU NEM SOU O OUTRO DE MARIO DE SÁ-CARNEIRO
Autor
(es)
Adriana
Alves de Lima – 5º período de Letras Português
Universidade
Federal do Acre - UFAC
A
análise tem por objetivo mostrar um à nova forma de poesia que se anunciava
nessa época, em que Mário de Sá- Carneiro escreve as primeiras manifestações
dessa nova poesia.
Para tal interpretação, o título do poema se faz
importante “Eu não sou eu nem sou o outro” é algo que nos dá a sensação de
dúvida, incerteza. Utilizando a 1ª pessoa do singular, o eu lírico revela-se
com um advérbio de negação (não), verbo de ligação (ser) conjugado também na 1ª
pessoa do singular e paralelismo. Assim temos por objetivo interpretar a poesia
almejando revelar os aspectos intrínsecos dos versos.
No poema de Mário de Sá-Carneiro, entendemos o “Eu não
sou eu nem sou o outro” é aquela pessoa que nunca conseguiu se realizar
completamente no decorrer de sua vida. Nem conseguiu descobrir sua identidade.
De acordo com HALL apud Tadeu 1998[1]
“a identidade se constrói a partir do outro, ou seja, eu sou aquilo que o outro
não é”
O eu lírico do poema nos confunde muito com a biografia
do autor. Por conhecermos a vida e obra de Mário de Sá- Carneiro observa-se que
o mesmo não conseguiu se realizar enquanto indivíduo na sociedade de sua época,
não alcançou riquezas, nem um casamento, nem filhos, etc. Talvez o eu lírico
tenha absorvido esta temática vivida pelo autor.
O poema se constitui apenas de uma única estrofe, a qual
possui quatro versos (quarteto) sendo que os mesmos não seguem uma métrica
fixa, mas o primeiro verso é rimado com o quarto, e o segundo com o terceiro
constituindo assim ABBA.
“Eu não sou eu nem sou o outro, (A)
Sou qualquer coisa de intermédio: (B)
Pilar da ponte de tédio (B)
Que vai de mim para o outro.” (A)
Nessa
perspectiva optamos por fazer uma análise mais intrínseca do poema, como já foi
citado anteriormente no primeiro verso temos o eu lírico representando uma
pessoa que não é nem uma coisa nem outra, ou seja, alguém que sempre ficou no
meio termo, nunca alcança seus objetivos, se é que tem.
No
segundo verso “Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte do tédio”. Mas
uma vez o eu lírico utiliza um verbo de ligação (ser) conjugado na 1ª pessoa do
singular, como se ele fosse qualquer coisa de intermédio, ou seja, o que
entendemos por intermédio? É o apaziguamento, é algo que está ente ele e o
outro, é o pilar, ou seja, a coluna de sustentação, da ponte de tédio, esta é o
único meio de ligação, o caminho por onde atravessa o tédio, como vemos adiante
“que vai de mim para o outro” compondo o último verso.
Portanto,
o eu lírico revela como alguém que nunca consegue definir sua identidade, e o
que serve de elo, de corrente, é este se considerar qualquer coisa que funcione
com intermédio, entre o outro.
Conclui-se
que mais uma vez nas poesias de Mário de Sá- Carneiro a problemática do eu
reaparece, e essa descoberta do eu, só se dá no momento que este identificar o
outro. Vemos que isso não acontece nesse poema, se caracterizando o motivo
central no poema, a crise de personalidade. Compreende-se o poema como uma
crise existencialista, e vemos que os versos carregam muitas marcas da vida
biográfica do autor, e que o poema não ocorre o desfecho, mas permanece aquele
suspense, deixando sempre a dúvida no leitor.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade.
Traduzido por Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro: Rio de Janeiro: DPCA,
1998
[1] HALL,
Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade.
Traduzido por Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro: Rio de Janeiro: DPCA,
1998
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