Do que trata a literatura de viagens no
século XV, no momento de 400 ao Seicentismo?
De acordo com o livro de
Literatura Portuguesa de Massaud Moisés, a literatura de viagens é as cartas,
crônicas, novelística que eram escritas quando os cavaleiros viajavam em uma
expedição marítima por um longo tempo e a partir das experiências desses
cavaleiros viajantes é que surgem os relatos de viagens, roteiros, diários ou
equivalentes, reportagens do mundo que se ampliava em todas as direções, como
aborda Massaud “é imediato compreender que, à impressão de assombro deixada
pelas descobertas de novas esferas e paisagens, sucedeu o desejo de fixá-las
para transmiti-las a toda gente.”
Como não existia a
imprensa na época, podemos dizer que estes viajantes funcionavam como a
imprensa de hoje, só que relatando muitas vezes suas próprias experiências.
Estes representavam, por
exemplo, a História Trágico-Marítima, coletânea de relatos e naufrágios
ocorridos nos séculos XV, XVI e XVII, organizada por Bernardo Gomes de Brito (1688-?),
mitos nomes foram importantes, mais sem dúvida o mais importante de todos os
representantes de todo o gênero é Fernão Mendes Pinto (1510? -1583), é o autor
de uma das obras mais significativas do século XVI e de toda a literatura de
viagens de qualquer tempo: Peregrinação (1614), como é abreviadamente. Seu
longo título, como era moda naquele tempo, contém um resumo das aventuras
relatadas no curso da obra: “Peregrinaçam
que dá conta de muitas e mui estranhas cousas que viu e ouviu no Reino da
China, no Tartária, no de Surnam, que vulgarmente se chama Sião, etc.
Esse fragmento do texto
só reforça a idéia anterior, no que diz respeito às aventuras vividas pelos
viajantes, o qual serve de inspiração para a obra. Fernão Mendes Pinto escreveu
a obra no fim da vida, como herança aos filhos, “para que eles vejam nela estes
meus trabalhos e perigos da vida que passei no decurso de vinte anos”. Com
efeito, viajou entre 1537 e 1558 por várias partes da África e Ásia (Abissínia,
Arábia Feliz, Malaca, Sumatra, Java, Pegu, Sião, China, Índia, Japão), sempre
acentuado sentido aventuresco.
De acordo com o texto
percebe-se que os méritos atribuídos Fernão Mendes Pinto se dá devido ao seu
relato pretensamente sincero, vivo, realista, fruto das próprias experiências,
e isso atrai o leitor pelo pitoresco, pelos episódios em torno de variadas
aventuras, a narrativa,” o estilo descuidado, impressionista, construído hora a
hora, ao sabor das circunstâncias e do estado de espírito do escritor”.
O
CONTO
O conto tem sua remota origem nas primeiras
manifestações nas Mil e Uma Noites, e
foi pouco apreciado em Portugal antes do Romantismo. O primeiro nome que merece
ser lembrado é o de Gonçalo Fernandes Trancoso, o texto de Massaud Moisés
aborda que “sua biografia é obscura” e que o mesmo só começa breves narrativas
de fundo moral a partir da perda da família, e que estas narrativas foram
publicadas sob o título de Contos e
Histórias de Proveito e Exemplo (1575).
Trancoso como afirma o texto teve êxito durante o
século XVII, inclusive no Brasil, especialmente no Nordeste, onde passaram a
chamar-se de “estória de Trancoso” as narrativas populares de imaginação e
exemplo moral. Sua prosa desataviada, coloquial, ingênua. Trancoso faz uma
mistura do “sobrenatural com o real sem medo à inverossimilhança,
aproveitando-se da tradição oral e do magistério de contistas espanhóis, como
D, Juan Manuel e outros.
A
NOVELÍSTICA
Durante a Idade Média portuguesa apenas vingou a
novela de cavalaria, e assim mesmo, importada da França e adaptada, por meio de
tradução e glosa, à realidade sociocultural contemporânea. Entretanto o século
XVI presencia-se o florescimento da matéria cavaleiresca em vernáculo, e o
aparecimento da novela bucólica e sentimental de extração italiana, e da
narrativa de “proveito e exemplo”. Além de Bernardim Ribeiro, Francisco de
Morais e Gonçalo Fernandes Trancoso, certamente as mais importantes figuras da
novelística e do conto quinhentista, convém assinalar o nome de João de Barros
e Jorge Ferreira de Vasconcelos (1527- 1584/1585), autor do Memorial das
Proezas da Segunda Távola Redonda (1567). Além de outras inéditas e de várias
continuações do Amadis de Gaula,formando um extenso ciclo no decorrer da
centúria quinhentista (o “Ciclo dos Amadises”).
Caracteriza-as todas o esforço por manter vivo um
ideal de vida próprio da Cavalaria medieval, mas que se faz cada vez mais
estranho à nova mentalidade criada com o Renascimento: sobre soar falso, pois
correspondia a dar energia a um organismo agonizante, tal empenho acabou por
absorver ingredientes diluidores, trazidos pelo Classicismo, as conquistas, a
geografia fantasiosa, a presença da mitologia Greco-latina, da vida no mar,
etc. Constituem novidades. Entretanto, releva de todos eles o aspecto lírico,
hipertrofiado a ponto de colocar em perigo aquilo que compunha o recheio típico
da novela cavaleiresca: o encontro entre cavaleiros, em justas predeterminadas,
ou por acaso.
Percebe-se que o individualismo bélico cede lugar à
guerra coletiva, aos torneios, em flagrante concessão ao aprimoramento operado
no fabrico de armas e ao avanço em matéria de tática militar. Já não se
considerava o cavaleiro que luta, mas o que ama, pois assim passa a ser
entendida sua condição de ser efetivo, deixava a Cavalaria impregnar-se de
elementos estranhos que lhe preparavam a dissolução, pouco depois culminada no
D. Quixote (1605 - 1615).
O
TEATRO CLÁSSICO
Massaud Moisés afirma que “o teatro clássico é capitulo
secundário dentro do Quinhentismo português, e opôs voluntariamente, indo
buscar inspiração na Antiguidade Greco- Latina, especialmente em Plauto,
Terêncio e Sêneca.
A tragédia clássica só
entrou tardiamente em Portugal, embora já em 1536 Henrique Aires Vitória
fizesse a tradução para o Português da Electra, de Sófocles. A Castro, ou, com
o título pó inteiro, Tragédia de D. Inês de Castro (publicada em 1587), de
Antônio Ferreira, distingue-se por ser a primeira tragédia clássica em
vernáculo e praticamente única, além de a verdadeira obra- prima no gênero.
A
PROSA DOUTRINÁRIA
A literatura doutrinária,
dispersa-se em várias direções e reflete e reflete tendências, nem sempre
ortodoxas ou cortesãs. Podia-se dividi-las em dois tipos: laica e religiosa. A
primeira é representada, notadamente, pela Consolação às Tribulações de Israel
(1553), do judeu português Samuel Usque. A segunda, caracterizada por
misticismo, pensamento escolástico e não raros sensos agudos das realidades
sociais e psicológicas do homem do tempo e do homem em geral pertencem Frei
Heitor Pintor (1528? - 1584), com Imagem da Vida Cristã (1563, 1572), Frei Tomé
de Jesus (1529-1582), com Trabalhos de Jesus (1602- 1609), Frei Amador Arrais
(1530 – 1600), com Diálogos (1589).
Sendo de si pouco
importante como Literatura, pois seu objetivo não- ficcional situa-as fora do
terreno literário propriamente dito, só encerra interesse, pondo de parte o
valor documental, doutrinal ou estilístico, a primeira dessas obras. Samuel
Usque impregna a obra de forte comoção, mercê de sua origem judaica, aliada à
sentimentalidade e sensualidade de raiz estética. Essas qualidades servem de
base a um escritor apaixonado, que se coloca inteiro na obra, com o objetivo de
retratar os horrores da perseguição a seus irmãos de sangue e religião.
E, assim, fecha-se o
Classicismo português, não sem deixar saldo para a época seguinte, graças às
linhas cruzadas que lhe formaram a estrutura, e o conteúdo ideológico que
transmite para o século XVII, época do Barroco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário