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domingo, 9 de novembro de 2014

LITERATURA DE VIAGENS

Do que trata a literatura de viagens no século XV, no momento de 400 ao Seicentismo?
De acordo com o livro de Literatura Portuguesa de Massaud Moisés, a literatura de viagens é as cartas, crônicas, novelística que eram escritas quando os cavaleiros viajavam em uma expedição marítima por um longo tempo e a partir das experiências desses cavaleiros viajantes é que surgem os relatos de viagens, roteiros, diários ou equivalentes, reportagens do mundo que se ampliava em todas as direções, como aborda Massaud “é imediato compreender que, à impressão de assombro deixada pelas descobertas de novas esferas e paisagens, sucedeu o desejo de fixá-las para transmiti-las a toda gente.”
Como não existia a imprensa na época, podemos dizer que estes viajantes funcionavam como a imprensa de hoje, só que relatando muitas vezes suas próprias experiências.
Estes representavam, por exemplo, a História Trágico-Marítima, coletânea de relatos e naufrágios ocorridos nos séculos XV, XVI e XVII, organizada por Bernardo Gomes de Brito (1688-?), mitos nomes foram importantes, mais sem dúvida o mais importante de todos os representantes de todo o gênero é Fernão Mendes Pinto (1510? -1583), é o autor de uma das obras mais significativas do século XVI e de toda a literatura de viagens de qualquer tempo: Peregrinação (1614), como é abreviadamente. Seu longo título, como era moda naquele tempo, contém um resumo das aventuras relatadas no curso da obra: “Peregrinaçam que dá conta de muitas e mui estranhas cousas que viu e ouviu no Reino da China, no Tartária, no de Surnam, que vulgarmente se chama Sião, etc.
Esse fragmento do texto só reforça a idéia anterior, no que diz respeito às aventuras vividas pelos viajantes, o qual serve de inspiração para a obra. Fernão Mendes Pinto escreveu a obra no fim da vida, como herança aos filhos, “para que eles vejam nela estes meus trabalhos e perigos da vida que passei no decurso de vinte anos”. Com efeito, viajou entre 1537 e 1558 por várias partes da África e Ásia (Abissínia, Arábia Feliz, Malaca, Sumatra, Java, Pegu, Sião, China, Índia, Japão), sempre acentuado sentido aventuresco.
De acordo com o texto percebe-se que os méritos atribuídos Fernão Mendes Pinto se dá devido ao seu relato pretensamente sincero, vivo, realista, fruto das próprias experiências, e isso atrai o leitor pelo pitoresco, pelos episódios em torno de variadas aventuras, a narrativa,” o estilo descuidado, impressionista, construído hora a hora, ao sabor das circunstâncias e do estado de espírito do escritor”.
O CONTO
O conto tem sua remota origem nas primeiras manifestações nas Mil e Uma Noites, e foi pouco apreciado em Portugal antes do Romantismo. O primeiro nome que merece ser lembrado é o de Gonçalo Fernandes Trancoso, o texto de Massaud Moisés aborda que “sua biografia é obscura” e que o mesmo só começa breves narrativas de fundo moral a partir da perda da família, e que estas narrativas foram publicadas sob o título de Contos e Histórias de Proveito e Exemplo (1575).
Trancoso como afirma o texto teve êxito durante o século XVII, inclusive no Brasil, especialmente no Nordeste, onde passaram a chamar-se de “estória de Trancoso” as narrativas populares de imaginação e exemplo moral. Sua prosa desataviada, coloquial, ingênua. Trancoso faz uma mistura do “sobrenatural com o real sem medo à inverossimilhança, aproveitando-se da tradição oral e do magistério de contistas espanhóis, como D, Juan Manuel e outros.
A NOVELÍSTICA
Durante a Idade Média portuguesa apenas vingou a novela de cavalaria, e assim mesmo, importada da França e adaptada, por meio de tradução e glosa, à realidade sociocultural contemporânea. Entretanto o século XVI presencia-se o florescimento da matéria cavaleiresca em vernáculo, e o aparecimento da novela bucólica e sentimental de extração italiana, e da narrativa de “proveito e exemplo”. Além de Bernardim Ribeiro, Francisco de Morais e Gonçalo Fernandes Trancoso, certamente as mais importantes figuras da novelística e do conto quinhentista, convém assinalar o nome de João de Barros e Jorge Ferreira de Vasconcelos (1527- 1584/1585), autor do Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda (1567). Além de outras inéditas e de várias continuações do Amadis de Gaula,formando um extenso ciclo no decorrer da centúria quinhentista (o “Ciclo dos Amadises”).
Caracteriza-as todas o esforço por manter vivo um ideal de vida próprio da Cavalaria medieval, mas que se faz cada vez mais estranho à nova mentalidade criada com o Renascimento: sobre soar falso, pois correspondia a dar energia a um organismo agonizante, tal empenho acabou por absorver ingredientes diluidores, trazidos pelo Classicismo, as conquistas, a geografia fantasiosa, a presença da mitologia Greco-latina, da vida no mar, etc. Constituem novidades. Entretanto, releva de todos eles o aspecto lírico, hipertrofiado a ponto de colocar em perigo aquilo que compunha o recheio típico da novela cavaleiresca: o encontro entre cavaleiros, em justas predeterminadas, ou por acaso.
Percebe-se que o individualismo bélico cede lugar à guerra coletiva, aos torneios, em flagrante concessão ao aprimoramento operado no fabrico de armas e ao avanço em matéria de tática militar. Já não se considerava o cavaleiro que luta, mas o que ama, pois assim passa a ser entendida sua condição de ser efetivo, deixava a Cavalaria impregnar-se de elementos estranhos que lhe preparavam a dissolução, pouco depois culminada no D. Quixote (1605 - 1615).
O TEATRO CLÁSSICO
            Massaud Moisés afirma que “o teatro clássico é capitulo secundário dentro do Quinhentismo português, e opôs voluntariamente, indo buscar inspiração na Antiguidade Greco- Latina, especialmente em Plauto, Terêncio e Sêneca.
A tragédia clássica só entrou tardiamente em Portugal, embora já em 1536 Henrique Aires Vitória fizesse a tradução para o Português da Electra, de Sófocles. A Castro, ou, com o título pó inteiro, Tragédia de D. Inês de Castro (publicada em 1587), de Antônio Ferreira, distingue-se por ser a primeira tragédia clássica em vernáculo e praticamente única, além de a verdadeira obra- prima no gênero.
A PROSA DOUTRINÁRIA
A literatura doutrinária, dispersa-se em várias direções e reflete e reflete tendências, nem sempre ortodoxas ou cortesãs. Podia-se dividi-las em dois tipos: laica e religiosa. A primeira é representada, notadamente, pela Consolação às Tribulações de Israel (1553), do judeu português Samuel Usque. A segunda, caracterizada por misticismo, pensamento escolástico e não raros sensos agudos das realidades sociais e psicológicas do homem do tempo e do homem em geral pertencem Frei Heitor Pintor (1528? - 1584), com Imagem da Vida Cristã (1563, 1572), Frei Tomé de Jesus (1529-1582), com Trabalhos de Jesus (1602- 1609), Frei Amador Arrais (1530 – 1600), com Diálogos (1589).
Sendo de si pouco importante como Literatura, pois seu objetivo não- ficcional situa-as fora do terreno literário propriamente dito, só encerra interesse, pondo de parte o valor documental, doutrinal ou estilístico, a primeira dessas obras. Samuel Usque impregna a obra de forte comoção, mercê de sua origem judaica, aliada à sentimentalidade e sensualidade de raiz estética. Essas qualidades servem de base a um escritor apaixonado, que se coloca inteiro na obra, com o objetivo de retratar os horrores da perseguição a seus irmãos de sangue e religião.
E, assim, fecha-se o Classicismo português, não sem deixar saldo para a época seguinte, graças às linhas cruzadas que lhe formaram a estrutura, e o conteúdo ideológico que transmite para o século XVII, época do Barroco.
























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